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Importância desta Exposição

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A importância histórica da passagem de Martius e Spix por Minas Gerais

 Por:  José Newton Coelho Meneses (UFMG)

A picada ficou tão estreita, que a custo passava uma mula atrás da outra (…). Assim está escrito na narrativa do zoólogo Johann Baptist von Spix e do botânico Carl Friedrich Philipp von Martius sobre certo trecho do percurso deles por Minas. A frase não diz, no entanto, dos horizontes de conhecimentos e dos caminhos de saber contidos nessas estreitas picadas. Não denota, ainda, a importância histórica da viagem e da narrativa dos viajantes. 

Pensar a viagem dos naturalistas oitocentistas é buscar a compreensão de sentidos e de significados para o tempo da viagem e para o nosso tempo. Já as narrativas das viagens dos naturalistas nos evidenciam paisagens de tempos passados e naturezas do presente. São fontes de entendimento e de interpretação da História. Refletir, por exemplo, sobre seus relatos preocupantes com a conservação da paisagem natural na contemporaneidade da viagem, contrapondo-os aos desastres ecológicos de nossos dias, em áreas do próprio percurso dos naturalistas, nos evidencia a aderência de suas observações na longa duração.

Movimento no espaço, a viagem de Spix e Martius implicou, também, deslocamentos no tempo. Interromperam um tempo europeu, doméstico e sedentário, e arriscaram-se em temporalidades novas na América. A viagem foi para eles busca científica e renovação. Foi estranheza e tolerância, embate e aceitação. Foi, sobretudo, experiência de alteridade. Gerou saber novo e informação sobre a Ciência e a realidade de um tempo. 

A viagem de ciência no século XIX implicava em construção de narrativas escritas, lidas e criticadas por um público leitor exigente de informações geográficas, naturalistas e culturais. O viajante naturalista deslocava-se para produzir saber e para informar conhecimentos. Partia de um plano de gabinete e mergulhava em um campo desconhecido, como se peregrinasse para uma cognição renovadora e para uma rota iniciática do próprio ser. A viagem renovava o viajante e atualizava seus objetivos cognitivos para o campo. Suas narrativas informam à História sobre os homens de ciência, os saberes científicos, a terra e os costumes, o Brasil que se forja ao final do período colonial.

Carl Friedrich von Martius e Johann Baptist von Spix traçaram no Brasil percurso largo em extensão e em encontros com paisagens e com as gentes da terra. De norte a sul e de leste a oeste formaram coleções botânicas, zoológicase mineralógicaspara fins científicos. Percorreram picadasestreitas, caminhos difíceis e forjaram uma ideia de nação brasileira e de História do Brasil. 

Se a nossa Serra do Espinhaço é hoje uma Reserva da Biosfera da Humanidade, isso se deve não somente a sua inegável importância natural, mas pelo fato dela ter se tornado conhecida mundialmente por naturalistas que a batizaram e vasculharam há cerca de duzentos anos atrás. Durante todo o percurso que fizeram pelo Brasil, Martius e Spix estavam tomados pelo “sentimento da natureza” e foi com este espírito que eles penetraram na Reserva próximo a Ouro Preto. Eles levantaram todas as informações que lhes eram possíveis no sentido de tentar entender, por meiodos mais simples e imperceptíveis detalhes, o quadro amplo da exuberante paisagem tropical que se apresentava a cada novo dia de jornada. A descrição da primeira vista da paisagem do Distrito Diamantino é emblemática - “tudo que até então havíamos visto de mais belo e soberbo em paisagens parecia incomparavelmente inferior diante do encanto que se oferecia aos nossos olhos admirados”. 

A Biosfera do Espinhaço, que ambos (ad)miravam enquanto botânico e zoólogo que eram, só podia ser entendida se dialogasse com as montanhas, as águas, os ventos, os habitantes, sua história e sua pré-história. Seguindo por essa via de investigação, ao mesmo tempo maravilhados e atentos, medindo e exprimindo suas sensações, registrando fatos sem perder a poesia do momento, Martius e Spix revelaram uma ecologia pioneira em termos do entendimento da natureza brasileira. Ecologia que, de resto, tão intimamente dialoga com a Geografia, a Biologia e com todas as demais ciências naturais. Fizeram no Brasil, o que Humboldt não pôde aqui fazer! Martius e Spix, assim como outros naturalistas que então percorreram o território da hoje Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, inauguraram o conhecimento científico-ecológico-natural dessa cordilheira, razão de ser de seu reconhecimento pela UNESCO. 

Por ter podido trabalhar por mais tempo com o material aqui recolhido, Martius concebeu também um estudo único sobre a flora brasileira e escolheu as palmeiras para nelas aprofundar em seus estudos , além de fazer o primeiro grande mapa fitogeográfico do Brasil. 

Se as palmeiras são o símbolo do ressurgimento, Martius e Spix ressurgem mais uma vez entre nós através desta exposição.  

A importância de aspectos naturais retratados por Martius e Spix pelo território da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço 

Bernardo Machado Gontijo (UFMG)

Se a nossa Serra do Espinhaço é hoje uma Reserva da Biosfera da Humanidade, isso se deve não somente a sua inegável importância natural, mas pelo fato dela ter se tornado conhecida mundialmente por naturalistas que a batizaram e vasculharam há cerca de duzentos anos atrás. Durante todo o percurso que fizeram pelo Brasil, Martius e Spix estavam tomados pelo “sentimento da natureza” e foi com este espírito que eles penetraram na Reserva próximo a Ouro Preto. Eles levantaram todas as informações que lhes eram possíveis no sentido de tentar entender, por meiodos mais simples e imperceptíveis detalhes, o quadro amplo da exuberante paisagem tropical que se apresentava a cada novo dia de jornada. A descrição da primeira vista da paisagem do Distrito Diamantino é emblemática - “tudo que até então havíamos visto de mais belo e soberbo em paisagens parecia incomparavelmente inferior diante do encanto que se oferecia aos nossos olhos admirados”. 

A Biosfera do Espinhaço, que ambos (ad)miravam enquanto botânico e zoólogo que eram, só podia ser entendida se dialogasse com as montanhas, as águas, os ventos, os habitantes, sua história e sua pré-história. Seguindo por essa via de investigação, ao mesmo tempo maravilhados e atentos, medindo e exprimindo suas sensações, registrando fatos sem perder a poesia do momento, Martius e Spix revelaram uma ecologia pioneira em termos do entendimento da natureza brasileira. Ecologia que, de resto, tão intimamente dialoga com a Geografia, a Biologia e com todas as demais ciências naturais. Fizeram no Brasil, o que Humboldt não pôde aqui fazer! Martius e Spix, assim como outros naturalistas que então percorreram o território da hoje Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, inauguraram o conhecimento científico-ecológico-natural dessa cordilheira, razão de ser de seu reconhecimento pela UNESCO. 

Por ter podido trabalhar por mais tempo com o material aqui recolhido, Martius concebeu também um estudo único sobre a flora brasileira e escolheu as palmeiras para nelas aprofundar em seus estudos , além de fazer o primeiro grande mapa fitogeográfico do Brasil. 

Se as palmeiras são o símbolo do ressurgimento, Martius e Spix ressurgem mais uma vez entre nós através desta exposição.  

A importância de aspectos naturais retratados por Martius e Spix pelo território da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço 

Bernardo Machado Gontijo (UFMG)

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